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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Livro "Adoração Bíblica"_Russel Shedd


As Orações
O quarto elemento que Lucas destaca na adoração mais
antiga é a oração (gr. tais proseuchais, "as orações", At 2.42).
O judeu do primeiro século dificilmente podia imaginar um
culto sem orações, pelo menos na sinagoga.
Conseqüentemente, era natural que os primeiros cristãos
continuassem essa prática, ainda que com algumas
modificações.25. A importância básica das orações é notada
no nome "lugar de oração" (At 16.13). Em Filipos, uma
colônia romana, não havia os dez homens necessários para
formar uma sinagoga, mas havia um lugar de orações, onde
mulheres se reuniam (At 16.13). Paulo e Silas não sentiram
nenhum embaraço ao participarem desse primeiro culto
"ecumênico", transformando o que antes era especificamente
judaico em culto cristão. Daquele local foi feito um palco para
anunciar o evangelho.
Jesus ensinou que a oração deve ser particular (Mt 6.6)
e pessoal (Lc 11.5-13). Ele pouco falou sobre oração em
comunhão com outros irmãos, com exceção da famosa
afirmativa: "Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a
respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhesá
concedida por meu Pai que está nos céus" (Mt 18-19),
relacionada com o contexto de disciplina na igreja26 Sua
própria prática foi de orar sozinho, num monte ou lugar
afastado (Lc 6.12 9.29; 9.18; 22.41).
Ainda que pensando num sentido mais geral, a oração
se distingue da adoração pela preocupação do suplicante
com suas necessidades, enquanto a adoração conceitua a
alma sobre seu Deus. Um comentário puritano sobre o Salmo
107 dizia "A miséria instrui maravilhosamente a pessoa na
arte de orar".27
Mas as orações bíblicas valorizam a comunhão com
Deus. Como aparelhos complicados, projetados para uma
função particular, deixamos de alcançar o objetivo de nossa
existência fora da comunhão que a oração cria Egoísmo,
soberba e murmuração aniquilam a comunhão. Somos,
então, como quem tenta martelar um prego com sabonete28.
Orar de verdade quer dizer abandonar a rebelião e aceitar a
reconciliação. Jesus quis ensinar, acerca da oração, a
verdade incomparavelmente preciosa de que Deus deseja
nossa comunhão. Ele nos ama mais do que um pai humano
é capaz (Lc 11.11-13). Ele deseja ouvir as nossas
necessidades e supri-las (Mt 7.7-11). Amar a Deus acima de
todo objeto por ele criado só pode significar que Ele quer ser
conhecido e desejado pelas Suas criaturas.29. Por isso, as
orações dos santos são qualificadas como o incenso que
enche os vasos de ouro nas mãos dos 24 anciãos que
rodeiam o trono do Senhor do universo (Ap 5.8; cf.8.3). O
altar de incenso do propiciatório simbolizava o prazer com
que Deus recebia os louvores e petições do Seu povo.
No início, Deus fez o homem à sua imagem e
semelhança para que entre o infinito e sua criatura pudesse
haver comunhão, "pensamento correspondendo a
pensamento, coração a coração e vontade a vontade.30 Mas,
surpreendentemente, havia algo na criação que não era bom
(Gn 2.18); o homem, que vivia em plena harmonia vertical
com Deus, ainda não estava completo. Faltava-lhe descobrir
o que completava o nível horizontal e social. Comunhão
humana junto com a divina, para o homem.
A oração, mesmo quando elevada de uma forma
particular, não pode estar isolada do contexto social. Deus é
nosso Pai, não meu Pai. Se admitirmos que a essência do
pecado é egoísmo e orgulho, de onde emanam a geração de
pecados e condições características da humanidade após a
queda tais como: temor, frustração, ira, ciúme, inveja
amargura e vingança, reconheceremos que todos separam o
homem do seu próximo. Veremos, também, que a
reconciliação com Jesus, a qual nos induz ao louvor,
agradecimento e petições, tem a tendência de diminuir essas
barreiras. Na oração, procuramos escapar de nossa
independência para interceder.
Deste modo, não nos aproximamos do trono da graça
sozinhos, mas com o irmão, e até com a igreja.31
Orações públicas nas reuniões da Igreja devem ter o
mesmo significado. Aquele que ora, conduz toda a
congregação aos pés do Senhor, isto é, na medida que os
membros, individualmente, estejam também orando. Não ê
necessário repetir as palavras do que ora, mas, sim, elevar o
coração com ações de graças e petições pelos membros da
comunidade. Louvar a Deus pela escolha dos companheiros
na longa caminhada para o lar eterno tem um significado
singular, porque "temos da parte dele este mandamento, que
aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão" (1 Jo
4.21).
Lucas preserva um exemplo de oração pública na igreja
de Jerusalém, em Atos 4.24-31. Os estímulos anteriores a
estes momentos na presença de Deus foram a cura do
homem coxo, a interrogação de João e Pedro no Sinédrio e,
finalmente, a libertação dos dois. As autoridades não
acharam como os castigar, "por causa do povo, porque todos
glorificavam a Deus pelo que acontecera" (4.21). Uma vez
soltos, Pedro e João procuraram os irmãos da igreja e
contaram-lhes suas experiências. "Ouvindo isto, unânimes
(homothumadon) levantaram a voz a Deus" (v.24).
Perceberam claramente que Deus estava controlando todas
as circunstâncias ameaçadoras. Atribuíram a Deus o título
de "Soberano" (déspota, "autoridade suprema"), Criador do
Céu, terra, mar e todas as coisas que neles existem (v.24,
citando Ex 20.11; Sl 146.6). Nesta oração, a igreja firmou-se
no fato de que Deus é chefe supremo do universo (cf. Is
37.16). Nada e ninguém pode escapar da Sua providência
perfeita
Após reconhecer quem é Deus e o que Ele fez, a oração
afirma que Davi escreveu, pela inspiração do Espírito Santo,
palavras aplicáveis à situação da igreja A posição mundial
voltada contra Jesus, o Ungido, foi uma manifestação de ódio
contra Deus. O que acontecera nos eventos da Paixão apenas
poucas semanas antes, não fora surpresa nem ocorrera por
acaso, mas de acordo com o propósito divino. Confiança em
Deus e Sua palavra é a rocha viva em que a oração se
fundamenta
A igreja de Jerusalém não rogou para que a perseguição
acabasse e, assim, não sofresse a derrota que o temor dos
homens produz. Antes, pediu ao Senhor oportunidades e
intrepidez (parrēsia, "ousadia, liberdade, desembaraço") para
anunciar a mensagem da salvação. Não pediram curas, nem
milagres, mas desejaram (v.30) que o testemunho e a
pregação surtissem efeito sobre os ouvintes. Deus agraciou a
comunidade toda com a plenitude do seu Espírito.
Conseqüentemente, anunciavam com intrepidez a Palavra de
Deus (v.31). E a igreja cresceu em vez de se encolher e se
esconder (At 5.14).
Inseridos neste relatório da experiência na oração,
devemos notar os seis princípios seguintes.
O princípio da dependência. A igreja, sem forças
próprias e alvo da perseguição, sentiu de modo preciso a
verdade declarada por Jesus' "Sem mim, nada podeis fazer"
(Jo 15.5). Deixamos o braço da corpo físico para nos
apegarmos, pela fé, ao poderoso braço do Senhor.
O princípio da união. A igreja pôs-se a orar com
unanimidade, Eles não desprezaram a palavra de Jesus, de
que "se concordarem" (gr. sunphonēsōsin, "juntar vozes e
corações em plena harmonia") sobre qualquer coisa que
porventura pedirem, esta ser-lhes-á concedida (Mt 18.19).
Desconhecemos, freqüentemente, a força que a sintonia e
união espirituais acrescentam à oração.
O princípio da comunhão. "Levantaram a voz" (At 4.24).
Não oraram em silêncio, mas transmitiram com suas vozes o
que queriam. Dessa maneira todos podiam reforçar os
pedidos, assim como muitos fios torcidos formam um cordão
que dificilmente pode ser rompido.
O princípio do reconhecimento da grandeza de Deus. A
igreja colocou uma base inabalável sob sua oração.
Lançaram sua petição aos pés do único Soberano, aquele que
criou e controla todas as coisas. A única verdade que
realmente importa quando oramos é saber que Deus tem
Seus propósitos pré-determinados (v.28). As ameaças que
nos atemorizam não existem fora do controle de Deus (a
oração de Ezequias em Is 37.15-20). Satanás, como um
cachorro amarrado, pode rosnar, latir e até morder a igreja,
mas nunca engoli-la. A corrente que segura o diabo parecenos
muito comprida, mas ele não deixa de estar acorrentado.
O princípio de paralelismo nas Escrituras. As verdades
que o Espírito Santo revelou para Davi, e que ele, em
seguida, escreveu no Salmo 2, não valiam somente para a
situação original que aquele rei passou. "Estas coisas...
foram escritas para advertência nossa" (1 Co 10.11), Paulo
declarou. O "conforto" da Palavra de Deus (Rm 15.4) de
maneira alguma deve ser ignorado nas orações que
colocamos diante do trono de graça (Hb 4.16).
O princípio de prioridades. Ao contrário de muitas
orações pronunciadas hoje em dia, a igreja de Jerusalém
colocou a evangelização em primeiro lugar. A ameaça dos
inimigos era perigosa somente porque podia fechar a boca
dos servos de Deus. Nem curas e nem prodígios tinham
importância se esses milagres não apoiassem a desinibida
proclamação do evangelho. O plano predeterminado de Deus
culminou na crucificação do santo Servo Jesus (v.27). Deus
deu prioridade ao sacrifício substitutivo do Seu Filho para
que todo o mundo pudesse receber os benefícios do perdão.
Quando oramos devemos ter os pensamentos de Deus, como
o filho que pede um serrote ou uma máquina de escrever,
justamente porque o que quer fazer está sintonizado com o
desejo do pai. Este, por sua vez, deseja que o filho tenha a
experiência necessária para, um dia, poder colaborar com ele
(cf.1 Co 3.9).
Mais um tipo de oração da igreja recebe destaque
especial em Atos. Lucas relata que na ocasião da escolha do
apóstolo substituto, Matias, os apóstolos, mulheres e irmãos,
juntando cerca de cento e vinte pessoas, oraram juntos (At
1.24-25). Trata-se da oração que procura a vontade de Deus
na escolha e consagração de um obreiro para o ministério.
"Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos
qual destes dois (José ou Matias) tens escolhido" (v.24).
Não foi democracia eclesiástica que indicou o novo líder,
mas o desejo de preencher a vaga com a escolha divina A
ênfase desta petição, portanto, cai na autoridade de Deus
("Tu Senhor") e Sua onisciência ("conheces o coração").
Eleições desastrosas para cargos de liderança podem ser
evitadas somente por intermédio da oração que põe essa
responsabilidade pesada nas mãos do Todo-poderoso.
A escolha dos sete discípulos para cuidar da distribuição
diária teve sua causa primária na falta de tempo dos
apóstolos para ministrarem a palavra e orar (At 6.1-4). Após
a escolha segundo os critérios divulgados pelos apóstolos
(sabedoria e plenitude do Espírito), a consagração foi
realizada pela oração. Cremos que tal ato deve ter sido um
culto de entrega, um sacrifício oferecido a Deus pela igreja
Separar para as responsabilidades de administração e
ministério deve ser encarado como um sacrifício da igreja.
Tempo e talentos dela são ofertados a Deus em benefício do
Seu reino. Novamente, no início da primeira viagem
missionária, tanto a escolha como a própria consagração
surgiram e continuaram imersas na oração (At 13.1-3). Não
foi um chamado que Barnabé e Saulo receberam em
particular, mas o convite lançado para a igreja pelo Espírito,
para consagrar estas colunas da igreja de Antioquia para a
obra missionária.
Paulo e Barnabé aplicaram o mesmo princípio no campo
missionário. Ao voltarem às igrejas iniciadas na primeira
visita, promoviam eleições de presbíteros (pastores). É
importante destacar que as igrejas do sul da Galácia oraram
com jejuns para, em seguida, consagrar os obreiros
indicados: "... os encomendaram para o Senhor" (At 14.23).
Concluímos dizendo que qualquer líder da igreja de Jesus
Cristo precisa ser alguém que se comprometa a servir ao
Cabeça da Igreja

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